Dicionário do Vinho
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Dicionário do Vinho: o que é assemblage, blend e corte?

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A mistura de vinhos, ou assemblage, é um passo importante na vinificação.

A assemblage consiste da técnica de misturar diferentes parcelas de vinho da mesma safra (ou não), provenientes de terrenos diferentes, ou de tipos de uvas diferentes.

Primeiro, vamos aos fatos:
O que difere uma assemblage de um
corte ou blend? Nada. Exatamente.

Todo os termos se referem ao mesmo assunto: misturar dois, ou mais tipos de vinho. Sejam eles vinhos de uvas diferentes, safras diferentes, videiras diferentes, terrenos diferentes, e por aí vai.

Mas tudo isso é muito raso, certo? Então vamos entender melhor cada parte e porquê isso é feito.

Nesta postagem vamos aprender o que é, como é feita, quais as uvas que podem ser misturadas e porquê o enólogo faz as misturas de vinho. Vamos lá?

CURIOSIDADE
Quando um vinho não é um corte, blend ou assemblage, chamamo-os de “Varietal”. Na América do Sul, incluindo o Brasil, a grande parte dos vinhos são varietais, ou seja, compostos apenas de uma variedade de uva. Por isso compramos vinho por “Malbec” e por “Cabernet Sauvignon”, enquanto na França compramos “Bordeaux” ou “Borgonha”, que são nomes de regiões produtores e geralmente são assemblages. Outra curiosidade: Borgonha só faz cortes de Pinot Noir plantados em áreas/terroir diferentes.

Para nosso texto, utilizaremos sempre assemblage, mas lembre-se que tudo serve para blend ou corte.

Entendendo o que é uma assemblage

A assemblage é a mistura de vinhos da mesma origem geográfica, selecionados para suas qualidades complementares.

Trata-se de reunir safras vinificadas separadamente por variedade de uva, por terrenos, por terroir ou por colheita, a fim de tentar obter o melhor vinho possível.

O enólogo reunirá esses diferentes elementos para encontrar o vinho mais completo e de boa qualidade possível.

Abaixo o exemplo do que pode-se conseguir através da assemblage: 

  • O frescor de uma uva, aliviará o poder de outro;
  • A leveza de um vinho reduzirá a concentração de outro;
  • A tanicidade de um vinho pode aliviar a do outro;
  • Um aroma inexistente em outro vinho, pode aumentar o espectro de aromas do vinho final.

A mistura de todas essas variáveis que você leu acima, poderá adicionar complexidade ao vinho, fazendo o enólogo oferecer um vinho diferenciado ao seu consumidor.

Entre o corte com safras diferentes, os tanques com vinhos mais antigos, que dariam o “excelente vinho”, poderá receber vinhos mais leves e com menos potencial de guarda.

Caso o produtor queira este vinho pode ser tornar mais fresco, tornando esta assemblage um segundo vinho ou a segunda marca da sua vinícola, o que não é regra e também não acontece muitas vezes.

As Assemblages no caso Champanhe é um pouco diferente: neste estilo de vinho, a assemblage diz respeito a várias safras e colheitas diferentes. A gente verá isso mais a frente, não desista!!

O que significa Assemblage?

A assemblage é uma técnica que consiste em misturar vinhos de vinhas diferentes ou diferentes variedades de uvas, até mesmo de diferentes safras.

Por exemplo, Bordeaux produz vinhos em quase que sua totalidade através de assemblages, uma vez que esses vinhos são compostos por variedades de uva com características complementares.

Um grande exemplo, a Cabernet Sauvignon com a Merlot, que é o corte mais comum da região de Bordeux na França. O Cabernet Sauvignon complemente o Merlot, e vice versa.

Características mais fortes em um, sobressai o que o outro tem menos. É um verdadeiro casamento, uma sociedade. Juntam-se forças para um melhor vinho.

Assemblages francesas

Ainda sobre Bordeaux, os vinhos do Médoc são compostos principalmente de Cabernet Sauvignon, enquanto os vinhos Libournais são feitos principalmente da uva Merlot.

Após a vinificação ou após o envelhecimento, dependendo do enólogo, os vinhos de diferentes variedades de uva ou até mesmo de diferentes terroirs (que a gente também já explicou o que é aqui no blog) são misturados para compor o vinho final que assinará o estilo da vinícola.

O exemplo de Bordeaux foi citado, porque quando fala-se em França. o vinho é comprado na maioria das vezes apenas pela região que é produzido, e não pela variedade de qual o vinho é feito. O conceito de vinhos varietais é muito mais popular quando fala-se em vinhos do Novo Mundo.

Porcentagem de uvas nos assemblages

70% Grenache, 30% Syrah. Não é incomum encontrar fórmulas quase matemáticas em rótulos de garrafas de vinho. Estes números indicam a parcela de cada variedade (tipo) de uva contida em um vinho.

Em algumas regiões do mundo, as assemblages estão sujeitas a regras precisas, estabelecidas pelos órgãos locais que dão o selo de Denominação de Origem, por exemplo.

No Brasil, a legislação permite que o vinho seja classificado como varietal se uma uva for responsável por 70% de sua composição. Então, os outros 30% pode ser uma assemblage com um vinho que talvez nem lhe seja informada.

Tipos de assemblages no vinho

Dentro das assemblages, há várias possibilidades. Misturar safras, tipos de uvas, regiões diferentes, tudo isso junto, ou separado. As principais e mais comuns no mercado, são as seguintes:

  • ASSEMBLAGE DE VARIEDADES

A mistura de uvas é uma técnica antiga que pode ser ligada à prática tradicional de plantar várias variedades de uva em um único terreno.

As diferentes variedades de uva têm suas próprias características, incluindo em termos de maturidade, de quão madura esta uva pode ser, permitindo adquirir o equilíbrio e contribuir para a complexidade do vinho, considerando as características de cada uva que fará parte do vinho.

Hoje, as misturas de variedades de uva não dependem mais dessa técnica de plantio, elas são plantadas em terrenos diferentes, na maior parte dos casos.

  • ASSEMBLAGE DE TERROIR OU TERRENOS

Algumas regiões, como a Borgonha ou o Loire, que produzem vinhos (os famosos) de uma única uva, no entanto, praticam misturas de diferentes formas. O enólogo pode, por exemplo, jogar nas variedades da mesma variedade. Ficou confuso? Vamos explicar.

Cada variedade possui vários clones diferentes (variações genéticas, modificadas para produzirem melhor, ou para dar mais foco a uma característica da uva, doçura, acidez, por exemplo). Assim, existem 45 clones de Pinot Noir aprovados e quase 800 clones diferentes são reunidos em várias coleções de videiras.

Também pode ser usado diferentes solos ou terrenos, dependendo do tipo de solo, da orientação (em relação ao sol), a idade das vinhas, etc. Ainda pode utilizar os diferentes tipos de técnicas de aprimoração, como o barril (com várias idades), concreto ou aço inoxidável.

Essas combinações mantêm o mesmo objetivo: obter vinhos mais ricos, mais equilibrados e mais complexos do que se fossem engarrafados separadamente.

  • ASSEMBLAGES DE SAFRAS

A mistura de safras é uma prática proibida em quase toda a França, exceto para vinhos espumantes como o Champanhe, os chamados vinhos de reserva, o famoso Cuvée.

Graças a esta técnica de montagem, as marcas de champanhe podem manter características de qualidade e sabor consistentes ao longo do tempo. Este tipo de assemblage permite obter linearidade entre safras.

Esta é a razão pela qual o ano da safra não está incluído nos rótulos de champanhe, porque é feito de vinhos de diferentes safras.

O champanhe vintage é o único que indica um ano de safra porque corresponde a um vinho produzido a partir de uvas de um mesmo ano e, em geral, excepcional.

Por que misturar vários tipos de uvas?

Esta técnica de assemblage, permite aos vinicultores obter vinhos mais complexos do que se eles usassem apenas uma variedade de uva, ou até segurar uma linearidade entre seus vinhos, quando em alguma safra alguma variedade seja melhor que a outra.

Esta técnica é a principal maneira de tirar vantagens da maturidade da uva (tempo de maturação, amadurecimento). Já vamos explicar melhor.

As variedades de uvas (Merlot, Cabernet, etc.), tem uma variedade no ponto de amadurecimento diferente uma da outra. As uvas não amadurecem ao mesmo ritmo.

Misturar várias uvas oferece a possibilidade de afinar, até mesmo corrigir um vinho tinto que é muito tânico, ou levar acidez para um vinho branco que não tem vivacidade.

Também é uma boa maneira de multiplicar os aromas, cada uva dando diferentes camadas de aromas ao vinho. Um vinho à base de Grenache que é misturado com Syrah irá desenvolver notas que são mais picantes do que um 100% Grenache, por exemplo.

Onde os assemblages são mais comuns?

Em todo o mundo temos vinhos de corte ou assemblage. Essa técnica é originária da França, já veremos o por quê.

As assemblages na França são encontradas principalmente no Vale do Loire. A explicação é simples: na Borgonha e na Alsácia, os solos são muito ricos e principalmente, muito diversificados, o que faz com que um vinho feito de uma videira separada por uma estrada sejam totalmente diferentes. Alguns metros de distância podem fazer a diferença.

Dessa maneira, misturar os vinhos produz vinhos complexos de um único varietal, seja Pinot Noir, Chardonnay, Riesling ou Gewurztraminer.

As vinhas de Bordeaux, Sudoeste ou Provence, são muitas vezes plantadas em parcelas de uma única peça (não são divididas, nem ficam em terroir diferentes). Os vinicultores compensam assim um terroir mais uniforme, fazendo montagens com seu próprio terroir, misturando os tipos de uvas.

Qualquer tipo de uva pode ser misturado para criar uma assemblage?

A natureza é sempre muito bem organizada, portando, devemos prestar atenção nelas na hora de decidir as uvas que vamos usar na hora da assemblage.

Quando digo que a natureza é sábia, basta analisar o seguinte detalhe: as variedades de uva que se casam bem crescem, geralmente, sob a mesma latitude.

Merlot e Cabernet Franc, Mourvèdre e Carignan, etc. Os acordo são feitos de forma natural. O resto é uma questão de medidas para acertar a combinação.

Existe assemblages de diferentes safras?

Sim, você pode fazer isso e existem vinhos dessa categoria inclusive nacionais. A única restrição aqui, é que  produtor não pode por um ano no rótulo. Geralmente usa-se “Lote I”, “Lote II”, etc.

CURIOSIDADE
Este é o caso do Champagne. A vinha tem todos os direitos em termos de mistura. Tudo é permitido. Os enólogos podem combinar diferentes variedades de uva, safras e até vinhos de diferentes cores. É a única região autorizada a produzir rosé misturando vinho tinto e vinho branco. A única restrição é que os champanhes Blanc de Blancs devem ser feitos de uvas brancas, enquanto os Blanc de Noir são produzidos a partir de uvas tintas.

Em que momento a assemblage é feita?

A decisão depende dos vinicultores. Alguns levantam seus vinhos de diferentes variedades de uva em conjunto: a mistura é feita logo que é colocada em cubas.

Outros colhem e vinificam cada uva separadamente, depois juntam seus vinhos antes do engarrafamento. Esse método permite avaliar se o vinho pode ou não ser um varietal antes de ser comercializado.

Durante este processo, o enólogo faz várias tentativas, para tentar encontrar a melhor proporção de um varietal em comparação com o outro. O vinho restante pode então ser usado para fazer um “vinho de entrada” da vinícola, geralmente mais barato, ou apenas de estilo diferente, mais fiel as características de sua uva.

Concluindo

E então, deu pra entender melhor o que é um assemblage, blend ou um corte? Agora você já tem um pouco mais de bagagem para trocar figurinhas com os amigos! Conte pra gente o que você achou do texto aí nos campos dos comentários, vale muito pra gente saber se estamos no caminho certo! <3

Tags: Assemblage, Blend, Corte
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12 Comentários. Deixe novo

  • Ivanez Antonio Bragagia
    18 de jul, 2020 14:43h

    Excelente conteúdo. Grato pelas informacoes.

    Responder
  • Marcos, muito bom o seu texto. Claro, com sequência lógica e bem estruturado. Mas fiquei com uma dúvida: existe diferença entre assemblage, corte e blend?
    E quanto aos vinhos fortificados, o vinho do porto, a assemblage é a mistura dos cinco tipos de uvas no momento da fermentação ou existe assemblage de outras características (terroir…) depois da fase de fermentação?
    Muito obrigada. Salute!

    Responder
    • Oi Deila! Primeiramente, obrigado! E suas perguntam são ótimas! Não existe diferença entre os três termos, não tecnicamente. O que se vê com certa frequência é que “corte” geralmente é usado quando se tem apenas duas variedades. Blend também é mais usado quando são apenas duas variedade. E assemblage, número indefinido. Porém não é regra e um pode ser usado no lugar do outro, o que é comum acontecer.

      Quanto a sua segunda pergunta, é interessante porque ela vale para todos os vinhos. Um corte, assemblage, blend, pode sim, ser composto de dois terroirs diferentes, duas safras diferentes. Inclusive temos visto nos últimos anos aparecerem blends/assemblages de países diferentes, colaborações entre duas vinícolas. Algo que é desafiador porém eu vejo como uma ótima estratégia de divulgação entre as marcas/rótulos. É algo que na moda a gente já vê bastante, colaborações de marcas mais conceitos com marcas de grande alcance de público, as famosas “colaborações”.

      Consegui esclarecer mais? Se tiver dúvidas, pode mandar! 🙂

      Marcos.

      Responder
  • Boa e bem detalhada às informações.

    Responder
  • Márcio Pires
    17 de nov, 2019 10:08h

    Muito bom! Objetivo e esclarecedor, sem termos chatos que por muitas vezes nos intimidam e nos afastam do vinho. Parabéns.

    Responder
  • Ederson Freitas
    17 de dez, 2018 16:43h

    Olá Marcos Marcon e equipe! Parabéns pelo excelente trabalho e dedicação em compartilhar conhecimento com ótima qualidade, e principalmente pelo cuidado em apresentar uma linguagem acessível e confortável para a leitura dos diversos artigos!!! Bon courage! Félicitations!

    Responder
    • Merci, Ederson!

      Tentamos ao máximo simplificar o assunto. Esse foi o intuito do início do blog e sempre será nosso guia – simplificar para manter cada vez mais as pessoas perto desse mundo enorme que é o vinho!

      Je vous souhaite de bonnes fêtes! 🙂

      Responder
  • Fernando Roberto Medeiros
    4 de jul, 2018 12:16h

    Excelentes e precisas as informações.

    Responder

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